Aparecida Graciano de Souza alegou abusos e violência doméstica, mas júri considerou homicídio triplamente qualificado; julgamento foi marcado por discussões entre defesa e promotoria
A salgadeira Aparecida Graciano de Souza, de 67 anos, foi condenada a 17 anos e 4 meses de prisão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, após matar e esquartejar o marido, Antônio Ricardo Cantarin, em maio de 2023, em Três Lagoas. O julgamento ocorreu nesta quarta-feira (11), no Fórum da cidade, sob presidência do juiz Rodrigo Pedrini Marcos, da 1ª Vara Criminal.
Durante o júri, a defesa da ré alegou que Aparecida viveu sob cárcere emocional, sendo constantemente dopada, abusada sexualmente e ameaçada pelo marido. Segundo os advogados, ela agiu após um momento de desespero, quando ele teria revelado que não precisaria mais drogá-la para abusar.
Apesar disso, o conselho de sentença decidiu pela condenação por maioria dos votos, acolhendo a tese do Ministério Público, que sustentou a premeditação do crime e a tentativa de encobrir o assassinato.
O julgamento foi tenso e marcado por discussões acaloradas entre o promotor de Justiça, Dr. Luciano Anechini Lara Leite, e o advogado de defesa, Rogério de Souza Silva. A divergência começou após a defesa afirmar que não havia laudo pericial comprovando o uso de veneno. O promotor contestou, afirmando que o laudo existia, mas não foi anexado por falhas processuais.
O clima esquentou quando o promotor acusou o advogado de tentar manipular os jurados. O juiz precisou intervir mais de uma vez para restabelecer a ordem, afirmando: “Não sou peça de enfeite aqui nesse júri”.
O crime chocou a cidade. Em depoimento, Aparecida contou que usou veneno de rato no marido após lembranças traumáticas envolvendo a irmã. Após a morte, tentou disfarçar a ausência do marido e, com o corpo em decomposição, esquartejou o cadáver, alegando ter conhecimento do procedimento por já ter abatido porcos.
Ela armazenou partes do corpo em sacos plásticos e malas, usando um freezer para conservá-los. Depois, descartou os restos em áreas afastadas na saída para Três Lagoas. Dias depois, com a chegada da polícia, tentou negar, mas acabou confessando e levou os agentes até o local onde estavam as partes do corpo.
Agora condenada, Aparecida deverá cumprir pena em regime fechado e ainda pagará multa determinada pela Justiça. A defesa ainda pode recorrer da sentença.